domingo, 25 de março de 2018

#desconexões


Só queria lembrar que está ruim pra todo mundo. Não apenas pra você. E queria poder te dizer que há dias em que é difícil até respirar. O mal tomou conta da atmosfera, empestou as ruas, adentrou os bares, poluiu as redes, espalhou-se feito poeira e hoje até meu quarto escuro ele invadiu. Da minha cama, fito a única réstia de luz que adentra pela fresta. Ela ilumina partículas do veneno do mal que eu e você respiramos todos os dias. Hoje aprendi que até o ar mata. Então, não, eu não vou pra rua. A poeira da maldade está em todo lugar. No espaço não há mais abrigo. Não tendo pra onde ir, termino ficando por aqui mesmo, na minha retração, em companhia dessa loucura particular que me guia através das palavras. Elas que agora entornam pelas linhas, me espreitam da esquina da minha mente. Elas que só aparecem quando me escondo, espreitando a noite, esperando pela chuva que nunca vem, rezando por um vendaval que destrua de vez a cidade, ou que dissipe pelo menos parte desse veneno. Pareço só, mas só estou em recolhimento, aguardando o tempo passar. E até que a morte me corrija – me vença ou se dê por mim vencida – nem adianta insistir: daqui eu não me arredo. No meu quarto escuro, a única luz que enxergo vem das palavras que escrevo. Amigo, vai desculpando a ausência, mas nesse momento só consigo estar presente dentro de mim.



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