Só queria lembrar que está ruim pra todo mundo. Não apenas
pra você. E queria poder te dizer que há dias em que é difícil até respirar. O mal
tomou conta da atmosfera, empestou as ruas, adentrou os bares, poluiu as redes,
espalhou-se feito poeira e hoje até meu quarto escuro ele invadiu. Da minha
cama, fito a única réstia de luz que adentra pela fresta. Ela ilumina
partículas do veneno do mal que eu e você respiramos todos os dias. Hoje aprendi
que até o ar mata. Então, não, eu não vou pra rua. A poeira da maldade está em
todo lugar. No espaço não há mais abrigo. Não tendo pra onde ir, termino
ficando por aqui mesmo, na minha retração, em companhia dessa loucura
particular que me guia através das palavras. Elas que agora entornam pelas
linhas, me espreitam da esquina da minha mente. Elas que só aparecem quando me
escondo, espreitando a noite, esperando pela chuva que nunca vem, rezando por
um vendaval que destrua de vez a cidade, ou que dissipe pelo menos parte desse
veneno. Pareço só, mas só estou em recolhimento, aguardando o tempo passar. E até
que a morte me corrija – me vença ou se dê por mim vencida – nem adianta insistir:
daqui eu não me arredo. No meu quarto escuro, a única luz que enxergo vem das
palavras que escrevo. Amigo, vai desculpando a ausência, mas nesse momento só consigo estar presente dentro de mim.
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