domingo, 4 de novembro de 2018

procuro um coração

eu perdi meu coração.
acho que ele está tão bem guardado
que eu nem sei mais onde o deixei
trancado num quarto velho e escuro
agora lacrado com aviso de perigo
ou talvez o tivesse largado
e por aí ele foi servir de papel de presente
para quem não sabe que meu coração
é muito mais do que aquele pedaço de papel.
o tempo cobrou demais de mim
muitas coisas guardadas nas gavetas
vejo contas, cadernetas, bilhetes, carnês,
mas olhando no meio disso tudo
para as cartas que nunca enviei
só agora dou pela falta do desenho
ausência em mim da palpitação
que surgia das palavras rasgadas
que compunham o meu coração.
o vermelho dos pingos de sangue
perderam a cor nesse rastro antigo
impossível segui-los agora
os pingos viraram poeira
mas mesmo assim
meu coração partido em mil pedaços
trincado e cheio de espinhos
nunca deixou de bater por mim.
e agora que eu nem sei onde ele está
tento ouvir as batidas descompassadas
cada vez mais lentas
cada vez mais baixas
cada vez mais longe.
meu coração.
onde está?

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