Não sei se é flecha, navalha, espada ou punhal.
O objeto, nem sei o que é direito
feito de matéria que não vejo nem posso pegar
porque o exato lugar onde está é de difícil acesso:
entrou pelas costas
e da lâmina só sinto a ponta:
- sobressalente no peito -
poente, aguda, cortante
dilacerantemente serrilhante
é a forma que se apresentou
e que dela eu me acompanho
e com ela eu me contento:
- minha lâmina -
fincada no peito.
Acostumei-me a me olhar no espelho
e a ver a pontiaguda forma
roçar a superfície
sobressair ao vestido
abrir a camisa
desabotoando-lhe, uma a uma,
todas as vergonhas
revelando-me, uma a uma
todas as entranhas
e mostrando-se quase indiferente
só a ponta da lâmina
feito de matéria que não vejo nem posso pegar
porque o exato lugar onde está é de difícil acesso:
entrou pelas costas
e da lâmina só sinto a ponta:
- sobressalente no peito -
poente, aguda, cortante
dilacerantemente serrilhante
é a forma que se apresentou
e que dela eu me acompanho
e com ela eu me contento:
- minha lâmina -
fincada no peito.
Acostumei-me a me olhar no espelho
e a ver a pontiaguda forma
roçar a superfície
sobressair ao vestido
abrir a camisa
desabotoando-lhe, uma a uma,
todas as vergonhas
revelando-me, uma a uma
todas as entranhas
e mostrando-se quase indiferente
só a ponta da lâmina
levemente
incomodando a pele
- quase cicatrizada -
do peito.
Acho engraçado ninguém nunca a ter notado.
A ponta quase não se vê
mas uma lâmina fincada em um peito
- quase cicatrizada -
do peito.
Acho engraçado ninguém nunca a ter notado.
A ponta quase não se vê
mas uma lâmina fincada em um peito
é algo que, à distância,
distingue o ser.
Tento entender.
Talvez porque eu quase não a veja.
Talvez porque eu quase não a perceba.
E, de tanto não perceber, esqueço.
Talvez porque essa ponta de dor seja só minha.
Carrego-a comigo e divido com ela experiências.
E por ela escolho destinos.
Porque ela
- a lâmina -
aqui fincada
- no peito -
me obriga a ficar.
Porque ela
- a ponta -
me conhece tanto
quanto
eu a sinto.
Tenho uma lâmina fincada no peito.
Sinto a lâmina em mim.
Sinto-me eu a própria lâmina.
Aí eu respiro
e quase agradeço
porque ela
- a lâmina -
- a ponta -
- no peito -
não dói quando respiro.
A lâmina de tudo o que em mim restou
só dói quando eu me lembro
ou quando me lembram
Tento entender.
Talvez porque eu quase não a veja.
Talvez porque eu quase não a perceba.
E, de tanto não perceber, esqueço.
Talvez porque essa ponta de dor seja só minha.
Carrego-a comigo e divido com ela experiências.
E por ela escolho destinos.
Porque ela
- a lâmina -
aqui fincada
- no peito -
me obriga a ficar.
Porque ela
- a ponta -
me conhece tanto
quanto
eu a sinto.
Tenho uma lâmina fincada no peito.
Sinto a lâmina em mim.
Sinto-me eu a própria lâmina.
Aí eu respiro
e quase agradeço
porque ela
- a lâmina -
- a ponta -
- no peito -
não dói quando respiro.
A lâmina de tudo o que em mim restou
só dói quando eu me lembro
ou quando me lembram
o que sou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário